quarta-feira, 26 de setembro de 2012




Há saltos no chão


apertou
saltou
raspou

o gatilho
da arma
no pé

a mão
correndo
a maçaneta

o sapato
em direção
a gaveta

achou que era
brincadeira
não pensou que era
ladrão:
parou, sorriu
e só viu o sangue nas mãos
                     o salto no chão
                                  nas mãos
    do desconhecido.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012


delígrafo elíptico ¹²

fato foto feto
fez faz falta

amor
carinho
afeto

excesso de carência: excência

de jeito
o certo
é tá perto:
pazciência?!²

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

arte-fato

muita história 
e pouco ato é relato

falar de amor na arte é 'miar': gato
bate o punho covarde no muro 
da tua arte ruída: rato
muro pedra dor: feldspato

na cozinha, porcelana quebrada, história mal contada e uma lixeira à espera do
s cacos.
Maria Joana

o destino de Maria Joana é baseado em fatos reais:
amante de lábios que não têm cor
nem nome, nem gosto.

há uma vontade secular de beatificar tudo que atenda por Maria.
por isso, Joana.
há uma inquisição pós-moderna. E há.
para isso, Joana.

mas há também nesse século lares com culhões maternos.
não em forma. Em espírito. Neles, um ser para um paradoxo.
Maria Joana só é puta com hífen.
e santa também.
santa? Só de efeito. Jamais de causa.
puta? no melhor dos sentidos!

Maria Joana não tem sentidos: é confusa, difusa, profusa. E uso.
uma sinestesia autobiográfica.
Maria Joana é bicho maldito.
mata, chama, fecha, solta, separa, puxa e se esconde.
bendito seja o vosso nome: tem pai, filho e espírito santo nas bases de seu sacro-perfil.

tem o dom perverso da relação: une e separa.
tem a sina da reclusão: é fechada.
sempre tem fome: de pão e vinho.
renega o próprio nome: profano e divino.

de súbito, questionou sua existência,
provou da própria essência
e morreu de latência.
é pó e fascínio.

terça-feira, 12 de junho de 2012


tem cara tem troco

Era alto, magro e de olhar desconfiado
Era feito, moreno e de agir malicioso.

Tinha dança, calor, energia e movimento
Quatro paredes, ou mais. Momento.

Era gente, era olhar, era lábio, demora
Era olho no olho na hora.

Era lábio no lábio do moço
Não era amor, não era nada.
Não era ele, nem era outro
Foi no cara, coroa, no preço: foi troco.


As tão-manas

A pele tem o bom tom
O mesmo.
De sangue herdaram apenas a cor
A cor única.
O sorriso lhes cabe em ponto
A mesma métrica.

Cabelos lisos, palidez correta, curvos sorrisos e olhos de boneca
Uma porcelana, a outra de ferro
Uma entorta, enferruja. A outra que-
bra.

Cabelo liso. E um falso sorriso.
Palidez correta? Rugas na testa.
Risadas curvas. Mania (ou ingenuidade!) de gente burra .
Olhos de boneca. Solitárias de beca.
Tão ideais, tão belas, e tão humanas!
Tão disformes. Tão similares. Tão manas.

Tão manas!

(homenagem a duas bonecas que humanizaram-se)

domingo, 22 de abril de 2012


aos 90 anos da Semana de 22:


Merda, 22!

[cloaca contraída]

A arte é o ovo.
O ovo sem a casca.
A casca é o homem.
O homem-casca nunca é ovo.
No máximo, clara-gema.

A arte é o ovo.
O ovo com clara e gema.
A casca é o homem.
O homem-ovo não tem casca.
No mínimo, crista e pena.

[cloaca dilatada]

(Con-) fusão de odores no ar...
Ovo?
Papel, por favor!