quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Regozijo em cacos

A sede nem sempre é líquida. 
É fato que beber com os olhos é mais prazeroso.
A íris, ao abrir a cortina de cores,
nos serve um copo sempre cheio. Até a boca...
A boca do copo. O apelido do copo é fonte.
E é só mais uma dessas fontes em que se
Bebem mitos e lendas. Mitos e lendas, mais que apelidos,
são camuflagens...
O culpado disso tudo é a mente dos que não fecham os olhos.
Dos que têm sono, mas não fecham os olhos.

A sala, o quarto, o sofá, a cama e a cadeira são todos
invólucros que cercam a carnadura humana, pra lhe oferecer repouso,
morada. O desejo é um músculo que invade a caixa e a torna outra matéria,
outro corpo. O corpo em que a inocência blefa com a concupiscência.
E rima também...

As curvas, sem asfalto, causam perigo em dobro. 
Reto é bem mais do que seguir em frente. É seguir em frente, por trás...
Maçã e Homem são frutos do mesmo pé. A maçã permanece pela pura beleza,
o homem pelas muitas ejaculações... Somos a carne na carne,
mas nem sempre se é “eu”. Não se está sempre no “eu”.

Isso acontece quando a sala, o quarto, o sofá,
a cama e a cadeira se transformam em micro-édens.
Quando saímos de nós, quando nos olhamos no espelho 
e não há eu - reflexo. Há outros...
Pra penetrar, pra lamber, pra atiçar, pra enganchar,
pra (pre-) encher, pra enfiar, pra esvaziar...

Nosso corpo é um espelho quebrado. 
Atrás da cortina, escorre um gozo venal 
que lambuza os cacos que restaram. 
A sede nem sempre é líquida e pode ser
da espessura de um pau. De um pau que 
preenche (até) a boca. 
A boca do copo...

domingo, 2 de janeiro de 2011



Memórias na paleta


Tenho um papel róseo com letras em verde-bandeira. As letras (in)feliz e inevitavelmente são registros, marcas. As cores são estampas em versão reduzida (ou ampliada?). Tenho um pedaço de papel róseo com letras em verde-bandeira que, agora, mais que registros, são lembranças...